Tuesday, October 31, 2006

Eu sinto saudades também...


Que saudade sinto das minhas avós. Eu já sabia disso, porém hoje que já não as tenho, elas fazem uma falta danada. Tive sorte de poder declarar meu amor enquanto elas estavam comigo. E a questão é que o responsável por essa volta ao passado foi Pedro Almodóvar. Ele e suas mulheres. Assisti Volver (voltar em português), seu novo longa, numa cabine para jornalistas. E vi minhas velhinhas queridas ali no cenário, naquelas paredes empoeiradas, nos azulejos descascados, nos biscoitos, e no quintal grande cheio de plantas secas. É um filme que passa uma sensação de simplicidade, de cozinha de casa. Força, determinação e dramaticidade, mentindo quando é inevitável sem perder a ternura. Coisa de mulher. Os sons que mais se destacam são os agudos femininos e o vento. 1
Penélope Cruz é sem dúvida a atriz perfeita para as películas almodovarianas. Além de um mulherão, muito bonita, ela tem a alma nos olhos pretos. Ainda maiores e marcados num look dramático. Não consigo falar mais sem acabar contando a história bonita e forte do filme. Não tenho a pretensão de ser critíca, não tenho jeito, nem chatice suficiente para isso. Os críticos que me perdoem, mas eles parecem ser um pouco sisudos. Gosto mesmo é de comentar e de apreciar o que há de bom e meter o pau no que não gostei, sem precisar de muita análise. Nesse caso específico, só tenho comentários nostálgicos de minha parte e elogios de cinéfila e fã de Almodóvar.

Eu sinto


Eu sei que posso, sem muito esforço. Pelo menos eu espero, ainda conseguir perceber algo entre os seus olhares desconfiados, entre os dedos torcidos, na cor variável dos seus olhos, no ar. Espero que você me diga algo que eu ainda não sei, algo que mude tudo, ou algo que eu tô cansada de saber, mas de um jeito que me convença, que me iluda. Eu sinto. Não. Eu não sinto. Eu, eu, eu. Sempre eu. Cadê você? Cadê todo mundo? Estou sozinha nessa.
Minhas decisões, minha vida, e muita baboseira, além de não responsabilizar ninguém pela minha felicidade ou meu fracasso. Acho esse negócio de decidir algo terrível. Tudo devia ter prazo de validade. Aí quando acabasse, puf, babau, finito. Rsrs. Aiai, que imatura, alguém pensará. Fantasias que até hoje não me trouxeram nada além de. Nada além de. Algo como posts nada a ver como esse.

Tuesday, October 24, 2006

Tô no clima 2


Dia desses ouvi uma música e me veio na cabeça uma cena que vi num dos filmes que mais gosto. Sou romântica de natureza. Adoro essa música, também, é claro, porque ela mexe algo em mim. Este filme é sobre amor, mas não como esses que ganham recordes de bilheteria, não tem a Julia Roberts, não tem nenhum astro, tem atores, até então, pelo menos, anônimos para mim, que emprestaram seus rostos para uma bela história, como eu mesma faria com muito prazer. Segundo a temática, ninguém escapa do seu destino. O grande filme é Los amantes del círculo polar do diretor Julio Medem, que levou o prêmio de melhor roteiro no festival de Gramado de 1999. É um romance sem pieguice, sem melação, só com muita beleza e espera. Uma das cenas do filme fica clara na primeira estrofe. Quem quiser conferir a película, não vai se arrepender.

A música...

Inverno
Adriana Calcanhotto e Cícero Dias

No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase glacial
Há algo que jamais se esclareceu:
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei?
Lá mesmo esqueci
Que o destino
sempre me quis só
No deserto sem saudade, sem remorso só
Sem amaras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
Que um dia o céu
Reuniu-se à Terra um instante por nós dois
Pouco antes do Ocidente se assombrar

Monday, October 23, 2006

Passárgada

Sem pé, nem cabeça, tronco e membros, sem nada. Mentes diluídas gentil e lentamente em estado gasoso. Pulverizadas, e milhares de idéias e sonhos malucos, declarações de amor, lembranças boas, más, perversidade, ataques furtivos e esparsos de bom samaritano, piedade de pobres diabos e muita devassidão. Tudo navegando por aí.
Enquanto regorgitava verdades entre messalinas, casadas e solteiras, vi claramente que a vida é boa e cheia de possibilidades. Todo mundo devia soltar seu Barry White interior e cantar "You are my first, my last, my everything", periodicamente. O que é felicidade? Ha´quem diga coisas que me fariam tremer dentro do vestido. Vamos dançar ao som de Beatles na vitrola. Mas nunca sem antes estabelecer as prioridades. Quem tomba primeiro, e quem saboreia o último gole de Rose Cuervo. Amenidades. Calorias, muitas. Encanação, zero. Sem nível algum. Muito menos de consciência.

Qualquer coisa pra lá de Marraquesh, os papos pra lá de Teerã, as messalinas condenadas ao mármore do inferno, atrasaram a partida. Com uma vitrolinha, nada se passou em silêncio. E de inferninho se fez um céu, com música, que passou revisitando as lembranças que se perdiam e ficavam cada vez mais rarefeitas. Lágrimas, sorrisos, paz, tranquilidade, descarrego, alma leve, e sono pesado.

Tuesday, October 17, 2006

Eu tô no clima



O Zeca é o meu poeta de toda hora, as suas canções são feitas para serem degustadas. Adoro essa. Melhor mesmo será ouví-la. Segue...

CIGARRO (Zeca Baleiro)

do cd Baladas do Asfalto e outros blues

A solidão é meu cigarro
não sei de nada e não sou de ninguém
eu entro no meu carro e corro
corro demais só pra te ver meu bem

Um vinho um travo amargo e morro
eu sigo só porque é o que me convém
minha canção é meu socorro
se o mar virar sertão o que é que tem

dias vão dias vêm
uns em vão outros nem
quem saberá a cura pro meu coração
senão eu
não creio em santos e poetas
perguntei tanto e ninguém nunca
respondeu
melhor é dar razão a quem perdoa
melhor é dar perdão a quem perdeu

o amor é pedra no abismo
a meio passo entre o mal e o bem
com meus botões a noite cismo
pra que os trilhos se não passa o trem

os mortos sabem mais que os vivos
sabem o gosto que a morte tem
pra rir têm todos os motivos
os seus segredos vão contar a quem

Monday, October 16, 2006

Cinco segundos

A segunda feira já começou com chuva, deu aquela falsa esfriada de madruga. Depois de algumas horas o vapor que subiu do chão molhado se transformou num bafo sufocante. E ainda mais, aquele mal estar de domingo à noite, muito chato. Naquela manhã de segunda, ela acordou cedo e cheia de energia, o que a surpreendeu, não estava entendendo direito o porque daquela sensação estranha. Já que entusiasmo ultimamente era matéria escassa. Saiu pra uma caminhada, tentou se cansar, voltou pra casa e tomou um banho. Resolveu vestir algo especial que a deixasse bonita. Uma blusinha tomara-que-caia e uma saia godê, estilo anos 50. Seu reflexo no espelho a fez se lembrar da mocinha bandida que viu em um filme de gângsters, um clássico, Bonnie and Clide.
"Hum, vou usar um lenco ou um chapéu. Quero algum acessório". Subiu no banquinho e puxou uma sacola no maleiro, no quarto de seus pais. Junto com os lenços, caiu em cima dela uma caixa de madeira, bem em cima do pé. Abriu-se um dicionário de palavrões, ficou roxo na hora, aiiiii. Mas que "!(*&¨&¨% é essa? A caixa acabou se abrindo e caiu um embrulho pequeno, um saquinho de veludo roxo; e tinha algo pesado dentro. Hum...
Bonnie, Clide, minha saia godê, e dentro do veludo roxo tinha nada menos que um revólver, uma pistola calibre 22 toda cor de prata com cabo de madrepérola. Uma linda arma, feminina, pequena... parecia... uma jóia. Guardada há tempos pelo jeito, pedindo para ser usada. Mas o quê? Ela pensou e agiu rápido - "Vou levar comigo na bolsa. Minha mãe e meu pai não vão se dar conta nunca". Um impulso, um fetiche, e aquela sensação de vitalidade voltou, uma coceira. Teve algumas idéias estranhas. Esqueceu. Checou a arma, estava carregada.
Enquanto fechava a porta de casa, se perguntou para onde ía. A moça já estava vacinada em seu instinto consumista, há cinco meses sem trabalho, já tinha aprendido a viver sem certos caprichos, comprinhas banais, idas ao shopping, necas, babau. "Ah, não estou a fim de me vestir para procurar trabalho, vou passear". Seguiu ela se enganando, se dando ao luxo. Já no ônibus, sentia o peso da arma dentro da bolsa. -" Que loucura eu estou fazendo?"
Uma volta no parque, uma livraria, e ela se imaginou abrindo a bolsa e mostrando a arma ao caixa e levando um livro, ou flertando com um estranho no parque e quando ele se sentisse suficientemente atraído, ela mostraria a arma, e o pobre diabo sairia correndo para se salvar, rsrs. O quê? "Oh, estou enlouquecendo, endoidei de vez". Abriu a bolsa e a olhou um momento, era tão bonita, tinha um brilho. Os gangstêrs tinham uma vida glamourosa afinal, poder, emoção e inimigos, bom, não era fácil essa vida, porém... o que é? Pelo menos tinham uma vida emocionante enquanto durava. E muito dinheiro. As mulheres morriam cravadas de balas mas de batom vermelho e casquete, os homens, de ternos e alinhados. E enquanto caminhava devagar, quase parando, bem no auge da sua egotrip, viu-se bem em frente a uma dessas lojas de souvenirs e bijouterias femininas. O local era ponto de parada costumeira, gostava de dar uma olhada nos acessórios (e olhe lá), sempre tão caros, tão lindos, e tão sedutores. Logo na entrada uma pequena prateleira de chapéus chamou a atenção. Tinha um que combinava perfeitamente com seu figurino. Echarpes, pulseiras, anéis, muito strass, de todas as cores, ah, e os bróches. Subitamente, com a atenção presa, veio um silêncio e tudo que seus olhos enxergavam era o brilho das pedras e os preços das peças. Mute. O coração disparou de emoção, sentiu de volta aquela coceirinha, só que agora era algo malévolo, bem diferente daquela sensação do despertar. Apertou a bolsa e sentiu a 22. Agora ela sabia, era raiva, que tinha parado na sua garganta, não estava dando pra engolir. Sentiu um mal-estar, um impulso incontrolável tomou conta, e rapidamente ela visualizou um cenário e todos os elementos de sua trama de ação.
Abriu a bolsa, foi em direção aos chapéus, vestiu, foi até um colar de pérolas, arrematou um anel de pedra gigante transparente, parou em frente ao espelho de corpo inteiro. Se achou perfeita, poderosa. Algo impagável, se é que vocês me entendem. Enfiou a mão na bolsa, sacou uma arma pela primeira vez na vida, e sentiu o metal se moldar na sua mão. Arrepio. Foram três tiros certeiros e tudo aconteceu em cinco segundos. Esticou bem o braço e atirou duas vezes na vendedora que estava atrás do balcão, com a mão direita, um na testa e outro no olho, trocou de mão e acertou a outra bem na testa, uma vez. As duas tombaram quase ao mesmo tempo. O sangue gritava no piso frio branco da loja.
Bonnie se virou, guardou a arma que ainda soltava fumaça na bolsa e saiu. Caminhando a passos largos.

Thursday, October 12, 2006

Inércia incomoda

Não é uma unanimidade, mas todo mundo tenta viver da melhor maneira possível...no sentido de se CONFORMAR com certas coisas na vida, a não questionar o porquê da hipocrisia, da falta de trabalho, de projetos, de amor, de emoções, de ânimo e de paixão. Ah, é assim mesmo, é a vida....besteira. Tem uma outra parcela de pessoas que NUNCA se conforma com isso de jeito nenhum, que continua dando com a cara na porta, seja ela a porta errada ou a porta certa, seja o caminho certo ou tortuoso, mas sempre estão indo lá arriscando e reclamando, e se indignando, e pagando o preço alto da liberdade de expressão.

Estes são os românticos, espécimes em extinção, uns bestinhas que insistem em encontrar aquele algo que não tem nome, o algo que só se sente, não se explica sem denegrir um pouco o significado e o valor. Sem querer generalizar, é claro, as pessoas vivem na inércia, sem desejar, sem esperar, sem querer muito, já que sonhos, são sonhos, e muitas vezes ficam por aí. Que me desculpe o budismo, mas viver sem querer e sem desejar, é estar parcialmente morto.

Viver é melhor que sonhar. Ih será? Tenho minhas dúvidas (e não são poucas!) de que a vida real não é essa maravilha. Se fosse assim, eu acho, não existiriam tantos poetas, tantos artistas, para inventar um mundo paralelo onde tudo pode existir, onde os desejos se realizam e super heróis surgem na meio da rua para te livrar da morte dolorosa e certa. A gente tem que inventar a vida para viver decentemente. O mundo real está muito chato, sem esperança, sei que pode parecer clichê, ou fuga da realidade, e por que não? é isso mesmo. Eu gosto de fugir da realidade, estou me esforçando para me manter no círculo dos românticos, sair fora de rolê, ser criança e esquecer de que tenho que matar um leão por dia, para me sentir uma cidadã, para ser feliz, para ter dinheiro, para ter um pouco de respeito. Nada tenho contra a dura realidade...batente nunca fez mal a ninguém. Quiçá pode ser um santo remédio. Talvez seja disso que eu precise, para não ficar pensando BESTEIRA! É alguma coisa que minha mãe diria já de saco cheio de me ouvir lamuriando - "Pega um tanque cheio de roupa que isso passa!", hehe. Não adianta. Não renuncio ao meu direito de lutar por meu conto de fadas particular, de querer mais do que tenho, de ser romântica, sonhadora, ou infantil, seja lá o que for. Eu prefiro me imaginar nos extremos, mesmo que eu ainda tenha de andar bastante até chegar nessas terras, porque tô cansadaça dos meios termos edificantes.

Sunday, October 01, 2006

É a Daspu na arte moderna...e as ilusões idióticas do Fantástico

A marca Daspu agora chegou até a arte globalizada, porque arte sempre foi. A estilista da famosa grife fundada por prostitutas no Rio de Janeiro, criou um vestido confeccionado com lençóis doados por motéis. A técnica usada foi o patchwork que utiliza retalhos de vários tecidosdiferentes. Nada mais natural, mais espontâneo. O modelito será exibido na abertura da próxima edição da Bienal Internacional de São Paulo, será usado na performance do artista Pieter Pogacar no dia 7 de outubro. Pogacar trabalha com uma teoria criada por ele, chamada de "Novo Parasitismo". A teoria se inspira em manifestações urbanas e das pequenas minorias por onde passa e este ano o artista escolheu a criação de uma estilista da Daspu.

Outra, o programa global e dominical Fantástico, exibiu ontem mais uma reportagem super bem bolada, coisa bem up to date. Todo mundo já deve ter ouvido falar em ilusão de ótica. Pois é, com certeza você já deve ter recebido por email aqueles testes onde você vê pontinhos cinzas entre os quadradinhos pretos e brancos, ou então aquele outro mais velho, onde você mira seu olhar por 30 segundos numa figura nada a ver, e depois ao olhar para uma parede clara vê o rosto de Jesus Cristo. Pois é, em pleno domingo à noite, e com certeza na falta de pauta melhor, o Cid Moreira, apresentou aquilo como se fosse mais um truque imperdível do Mister M. Você rirrá, você se emocionarrá...afe. Pena que eu não sou tão ábil na arte de manejar este blog senão postaria aqui uma ilusão idiótica para vocês.

ps: se é que alguém lê isso aqui.