Sunday, November 19, 2006

Eu to no clima 3


São 03h17, meu horário é agora. O carro do entregador de jornal acabou de passar, ouço ele todo dia. Eu penso melhor de madrugada. E daqui pra frente será meu único tempo livre. É bom isso. Estou atenta, alerta, e me sentindo tranquila, mais calma, senhora de alguma coisa. Alguma coisa pouca, mas minha. Não é a falta de sono que incomoda. É a falta de vontade. Só tenho sentido sono.
Apesar de pensar muito no meu tempo, e no tempo, e em timing, ultimamente..., e em como eu podia ter feito tanta coisa que não fiz nas tardes, manhãs e noites de marasmo,....esqueço, ontem é página virada já era. Os jornais de ontem servem para forrar o lixo, embrulhar peixe na feira, e reciclar. Agora e daqui um minuto para frente é que importa. Se fiz ou não fiz, só sei que foi assim. Aceito.
Parei de procurar e resolvi achar. Marquei um encontro comigo, no mesmo lugar de sempre. Só que dessa vez eu vou com a minha melhor roupa, e com os nervos à flor da pele. No rosto, luz apenas. Nos cabelos, fogo. No corpo, flexibilidade. Na mente, novidade.

O Bonde do Dom
Marisa Monte
Composição: Arnaldo Antunes / Carlinhos Brown / Marisa Monte

Novo dia
Sigo pensando em você
Fico tão leve que não levo padecer
Trabalho em samba e não posso reclamar
Vivo cantando só para te tocar

Todo dia
Vivo pensando em casar
Juntar as rimas como um pobre popular
Subir na vida com você em meu altar
Sigo tocando só para te cantar

É o bonde do dom que me leva
Os anjos que me carregam
Os automóveis que me cercam
Os santos que me projetam
Nas asas do bem desse mundo
Carregam um quintal lá no fundo
A água do mar me bebe
A sede de ti prossegue
A sede de ti...

Wednesday, November 15, 2006

Apenas uma mulher

Tamirez olhou na cara dele e falou com tanta gana que até cuspia: - Faça-me rir, me ame com vontade, lute por mim, de uma forma que eu possa ver. Sei lá, faça algo. Mas isso é difícil pra você né! Faça alguma coisa. Esse lance de cuidar de você não está com nada. Eu estou farta. Depois de todos esses anos, pra mim chega, na boa. Volto outra hora para pegar minhas coisas. Te amei muito. Mas acabou. Ela se despediu com um beijo no pescoço dele.

Augusto ficou parado na sala vendo-a pegar a bolsa e o casaco e sair batendo a porta. Ele não disse nenhuma palavra enquanto ela gritava pelos cotovelos. Essa atitude não surpreendeu a jovem senhora, que mesmo assim esperou que ele a surpreendesse. Vinte anos que se escorrem em cinco minutos. O fim do amor deve ser assim, acabando logo, como se as cenas da história toda fossem todas cortadas e adiantadas, ou como em último capítulo de novela.

A Augusto não restara nada senão ouvir todos os seus cd´s de blues e esvaziar garrafa do wisky doze anos. Apesar de se saber meio relapso com a mulher, ele já estava exausto com tantas exigências. Estar casado com Tamirez era quase uma maratona. Ela tinha pique para tudo, o tempo todo, queria sexo a todo momento, baladas, viagens, queria falar, falar muito. E ainda ir ao teatro, ao cinema e aonde mais fosse possível em apenas vinte e quatro horas. O que era muito normal. Fora a grana que isso consumia, muitos homens achariam-na a mulher dos sonhos. Além do fôlego, ela é bonita. Augusto também é muito boa pinta, e mais tranquilo. Adora sair e curtir, mas para Tamirez nada tinha fim. Ele estava cansado. Nos dez anos de casamento, o encanto se transformou num inferno, um martírio. Ele estava tão exaurido, que nem reagia direito, ou como devia quando ela era paquerada por outros homens. Às vezes, algo passava pela cabeça dele, umas idéias. Coisas tão malucas que ele preferia nem lembrar para ele mesmo. Augusto sempre pensava: - Ela é apenas uma mulher, como pôde me deixar assim, tão desprotegido. É de fato, apenas uma mulher. Como se fosse preciso algo mais diabólico e divino ao mesmo tempo, hehe.

Continua...

A parte mais difícil


Este blog anda cético, desanimado, preguiçoso. Hoje é feriado. Daqueles que te pegam no meio da semana, e só servem para aumentar a preguiça e a encarar aquele desejo eterno de fugir.

Música...ela ainda faz sentido, ainda traduz. Amo o Coldplay, porque adoro música triste.







Coldplay - The hardest part

And the hardest part
Was letting go not taking part
Was the hardest part
E a pior parte
Foi deixar tudo ir sem tomar partido
Foi a pior parte

And the strangest thing
was waiting for that bell to ring
It was the strangest start
E a coisa mais estranha
Foi esperar aquele sino bater
Foi o início mais estranho

I could feel it go down
It is sweet I could taste in my mouth
Silver lining the clouds
Oh and I
I wish that I could work it out
Eu pude sentir tudo desmoronar
É doce o gosto que pude sentir na boca
Forrando de prata as nuvens
Oh e eu
Eu queria poder consertar

And the hardest part
Was letting go not taking part
You really broke my heart
E a parte mais difícil
Foi deixar tudo ir sem tomar partido
Você realmente partiu meu coração

And I tried to sing
But I couldn't think of anything
That was the hardest part
Eu tentei cantar
Mas eu não conseguia pensar em nada
Essa foi a pior parte

I could feel it go down
You left the sweetest taste in my mouth
Your silver lining the clouds
Oh and I
Oh and I
I wonder what it's all about
Eu pude sentir tudo desmoronar
Você deixou um gosto doce na boca
Você forrou as nuvens de prata
Oh e eu
Oh e eu
Eu penso sobre o que é tudo isso

I wonder what it's all about
Eu penso sobre o que é tudo isso

Everything I know is wrong
Everything I do just comes undone
And everything is torn apart
Tudo o que sei está errado
Tudo o que eu falo se desmancha
E tudo está despedadaçado

Oh and it's the hardest part
That's the hardest part
Yeah that's the hardest part
That's the hardest part
Oh e essa é a pior parte
É a pior parte
Sim, é a pior parte...

Friday, November 10, 2006

Oi?!

Quase meio dia, lá se vão doze horas da alvorada, e eu ainda não produzi. Sei que o melhor está por vir. Espero acontecimentos, e além do mais, posso executar o que é preciso à tarde. Sou procastinadora fiel.
Tento esquecer as mensagens subliminares que me chegam como um bombardeio o tempo todo, pela televisão, pelo cinema, pelos comerciais, e pelas ilusões livremente criadas pela minha mente. Ela me perturba voluntariamente. As vozes mandam, elas dizem, realize, produza, faça. NOW. Não passe vontade, mande ver, seja você mesmo, um egoísta, um alguém. O "seja você mesmo" é o maior clichê da história da publicidade. E claro que o seu "você mesmo", precisa de um carro importado, de uma boa conta bancária, de tempo para fazer nada e gastar o dinheiro que você ganhou (como, já não importa), e comprar verduras fresquinhas que acabaram de chegar da fazenda, do mercado direto pra sua mesa. Além de um corpo esculpido por cinco minutos de abdominais diários, depois do death fucking milk shake totalmente natural. Mas, não ligue ainda, não compre ainda. Não morra ainda. Affffffffffff
Acabou de ser lançada a bermuda anti-celulite com cerâmica não sei das quantas no tecido. Ahahaha. Faz-me rir.

Tem coisa que pelamordeDeus....
Agora virou moda, sempre tem um maluco que levou chifre, ou pressentiu levar um, que sequestra a pobre da ex-mulher e quem mais estiver por perto. O freak do dia é um coitado que resolveu aterrorizar um ônibus na Via Dutra, no Rio. Como é que em algum momento uma pessoa pode imaginar que uma atitude dessas possa resultar em algo que valha a pena. Não entendo. A que ponto chega a possessividade, a certeza de controle das pessoas sobre seus cônjuges, namorados, ou amantes? Se todo mundo fosse ter seu dia de fúria, o planeta estaria deserto. E as imbecilidades se repetem todo dia. Na porta de casa, no vizinho, na esquina, ou num lugar longe de você.

Enquanto isso...
Longe disso, no silêncio do meu quarto escuro, abro a janela, sinto uma rajada de vento frio que passa por mim como se eu tivesse um buraco no meio do peito, assim...em plena primavera. Aproveito para respirar bem fundo. Olho em volta, uma bagunça. Á maneira mais blasé possível, eu faço de conta que não tenho mais nada para me preocupar e vou fazer uma máscara facial, gasto horas...comigo, com meus pés, com minhas mãos, com meu umbigo, ou apenas me olhando no espelho, até cansar.

Wednesday, November 08, 2006

A fonte da vida


Vou falar de outro filme que vi e gostei. Quem ler esse texto verá que este será o único favorável a ele, rs. Não há nenhuma crítica boa. Normalmente é assim, o jornal Folha de SP fala mal, eu gosto. O filme em questão é Fonte da Vida (The Fountain), que foi vaiado no Festival de Veneza em setembro último, e foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O diretor é o norte-americano Darren Aronofski, e para quem não o conhece, este filme é o último de uma trilogia do diretor. O primeiro da série foi Pi de 1998, Réquiem para um sonho, ambos desvairados como o que eu presenciei. Eu ainda não assisti, mas agora quero ver estes outros dois.

Neste filme, Darren criou um estória que mistura três narrativas que vagam entre passado, presente e futuro. Nas três, atuam Rachel Weisz, mulher de Darren, e Hugh Jackman, interpreta o médico que tenta salvar a vida da esposa na trama (Rachel). Meteram o pau na atuação do Wolverine (ooohhh!). Eu discordo, se ele tem cara de mau nas cenas de luta, ótimo! E se ele tiver que ser lembrado como o Wolv, em vez de darem um crédito pro moçoilo...fazer o quê! O mundo de Hollywood é injusto como o nosso. A Rachel vai bem também.

Durante as filmagens, Aronofski enfrentou problemas variados. O papel do médico era de Brad Pitt, mas ele largou o compromisso para filmar Tróia em 2002, no lugar de Rachel seria Kate Blanchet, que pulou fora graças a uma gravidez. Quando o estúdio ficou sabendo das mudanças, a Warner Bros. cortou o orçamento de 90 para 35 milhões de dólares. O resultado valeu a pena. Acho que a expressão mais certa mesmo é dizer que o filme é uma viagem, uma egotripo desesperada por amor. Um médico busca a cura para sua amada, que está morrendo de câncer. E essa busca se perde em várias dimensões, várias épocas. O tema me conquistou de cara, sou chegada e essas coisas, essas viagens sem sair da cadeira do cinema. Vale a pena gastar uma entrada.