Monday, February 19, 2007

Cinzas


Me explique, por favor, pode desenhar se quiser, porque eu realmente ainda não entendi muito bem. Pra quê esperar para se arriscar, para se jogar? Isso nunca esteve tão nítido para mim, nunca esteve tão claro como as águas de Ubachuva. Não importa esperar, não tem porquê. Eu cansei, e estou muito atrasada. Nunca estive mais sóbria, mais consciente. Será que estou para morrer? Porque deve ser muita lucidez, algo está para acontecer.

Será que é assim que funciona? Quando você começa a entender alguma coisa, bééééééééé, toca a campainha avisando que acabou seu prazo. Não, na verdade eu não entendo nada, ou melhor, os outros é que não me entendem. Nem sei mais...

Antes eu podia dizer que o problema era o carnaval, sabe como é, "o país só funciona despois do carnaval". E agora... o carnaval passou...a folia acabou. Agora é que a porca torce o rabo, agora é que eu vou saber a verdade. Talvez algo surpreendente aconteça. Eu duvido muito. Porque será que certas provações precisam acontecer na vida das pessoas, mais especificamente na minha? Perguntas, e mais perguntas sem resposta.

Penso que estou dando murro em ponta de faca, tentando entender o inexplicável, relutando em admitir que falhei. Sim, eu falhei em tudo. Não dei conta do recado, não fui a garotinha exemplar, persistente, valente e o diabo a quatro. Não tive um futuro promissor. Não plantei uma árvore. Tá difícil ter concentração para terminar um livro de vinte páginas. Pfffff. Ah, não tenho toda essa perseverança e paciência para abaixar e permitir que passem por cima de mim. Apesar da minha baixa estatura, Deus me deu uma altivez e um orgulho que me custam caro, e por cargas d´água fui acreditar que estava para realizar algo grande. Daí nasceu todo o problema. Ter esperança. Corri, nadei, disputei várias categorias, e morri de sede em frente ao mar. Sabe lá, o que é morrer de sede em frente ao mar. É assim que eu me sinto. Tenho uma longa estrada, com expectativas insaciáveis, e um receio de continuar juntando os cacos da minha cara, em cada porta, parede e fenda. Perdi a conta de quantas vezes, me esforcei para enxergar através da fechadura daquela porta. Daquela porta de entrada onde minha entrada foi expressamente vetada. Estou cansada. É um cansaço assim...quase doce, inebriante. Que me envolve, e vai sugando lentamente as minhas forças, a minha resistência. Ás vezes, ouço uma voz interna, e cerebral, que me diz, - "descansa, desista". O que eu estou esperando, resistindo, até me entregar a esse entorpecimento? Esse em que todos entramos cedo ou tarde, de uma maneira tão despreocupada...vencidos, fartos de contrair os músculos num exercício de exaustão inútil.
Há tempos, li um poema, "Tabacaria", de Fernando Pessoa.

"(...) Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado"






0 Comments:

Post a Comment

<< Home